Caminho de Humanidade...

Há um caminho...
Nesse caminho encontramos amores e dissabores,
Nele não há certezas e honras.
Nesse caminho há apenas a vontade certa de penetrar o incerto, mergulhar no mistério e envolver-se pela contemplação de eternidade...
Ah... que eternidade!
A eternidade dos simples que se fazem no tempo.
O tempo dos fracos que se fortificam nos sonhos...
A vida vivida dos que comigo partilham a esperança...
E de repente, no caminho, jaz apenas o encontro: entre o EU que em mim centelha e o TU que em ti contemplo...
Caminhando, enfim, encontro com aqueles que aceitam ser simples; com aqueles que, sendo simples, tornam-se grandes e, sendo grandes, tornam-se detentores de uma sublime humanidade...




Não existe amor maior...

Não existe amor maior...
De repente a gente descobre que não pode mais estar sozinho... que nem a incompletude nossa é capaz de conformar-nos com a ausência de quem nos completa... E então a gente descobre que não pode viver sem o encanto, o carinho, a presença, o amor que Deus nos presenteia...

O que significa ser mestre...

O que significa ser mestre...
Neste dia, a maestria se fez presente na singeleza dos gestos e na simplicidade de quem é sábio na inteireza... de quem é inteiro na sabedoria e humanidade.

sábado, 18 de junho de 2011

Presença de uma ausência...

Engraçado que o tempo se comporte em nós como um pássaro que passa e de repente alça vôo para horizontes desconhecidos. Cada momento é mais do que a sucessão que passa. É a oportunidade ímpar de perceber que o único tempo que nos marca não é aquele que passa, mas aquele que fica, aquele que é construído pela vivência do momento e que, na lembrança, torna-se presença de uma ausência.

Ausência e presença, portanto, são elementos que marcam o tempo.

A ausência, mais do que a experiência do não ter, do não ver, do não sentir..., é a certeza existente da presença: por já ser, por ter sido, por sentir... Assim o é, quando a pessoa com a qual nos encontramos não mais está conosco; quando o filho que criamos, já está tão distante e diferente; quando os sonhos que realizamos já se perderam no acúmulo dos momentos e se transformaram em simples lembrança. E o são justamente porque a presença não é a lembrança do que marcou, mas a certeza de que o acontecimento enquanto fato não se perdeu na ausência sucessória das horas que passam, mas se presentificou em cada passo vivido, em cada nova aurora constituída.

Ausência é o nome humano que damos às nossas construções que se presentificaram no decorrer do tempo que se passou. É a presença do sonho. É o sonho da presença.

A Presença é sempre confundida com fato, com objetividade, com expressão física ou cósmica do que falamos. Presença não é outra coisa senão a oportunidade do encontro. É encontro marcado e acontecido. É a conjugação do sonho e da sua realização. É a ausência de momentos, tornando-os perenidade de acontecimento. Nada mais presente do que o encontro. Nada mais encontro do que a presença que nos certifica da objetividade de quem encontramos.

Assim, a presença é forma de não acreditarmos na ausência. É a perenidade do tempo que passa como um constante encontro, em que as pessoas e os seres nele envolvidos nada mais são que artífices de uma eterna aliança, uma lembrança de eterno amor...

Ausência e Presença: marcas do encontro humano com a inteireza do encontro, encontro marcado com a presença eterna dos sonhos esperançosos que nos marcam.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Filosofia e Ensino Médio: o médio ensino da Filosofia.



Introdução

Desde a antiguidade, a Filosofia se firma mais como um processo de pensar do que propriamente um processo de ensino-aprendizagem. Não se trata de uma possível   incompatibilidade entre a Filosofia e o processo de ensino-aprendizagem. Refere-se, antes, a um trajeto que supera a tecnicidade do ensino e reclama um lugar próprio na educação do ser humano.

Entendida a educação como um trajeto de humanização, cabe ao filosofar dar sentido a esse processo. Assim, o lugar reclamado pela Filosofia no ensino formal, em especial o ensino escolar, remonta às origens das próprias instituições educacionais. No Brasil, o surgimento das faculdades de Filosofia, quase sempre capitaneadas por interesses acadêmicos que atendiam a contextos específicos, representou a possibilidade de formar cidadãos comprometidos com o saber e com a objetivação desses saberes em forma de condutas neles imbricados.

Diante das mais diferentes transformações políticas no Brasil, a Filosofia ocupou muito ou pouco espaço nas ideologias fomentadoras de tais contextos. Exemplo disso, foi a extinção do ensino de filosofia nas Escolas nos períodos em que se sobrepunham a ditaduras das leis às palavras, o autoritarismo de grupos em detrimento do diálogo do pensar.

A redemocratização apontou para uma nova época. A passos lentos, formou-se a ideia de que a práxis, enquanto diálogo entre reflexão-ação, precisava redimensionar os seus horizontes na educação. O telos do saber filosófico afirmava a necessidade um itinerário a ser construído, tanto na perspectiva das leis vigentes quanto na consideração coletiva da importância da Filosofia. A Constituição Cidadã de 1988, a nova LDB 9394/96 e os PCN´s, são provas inequívocas - porém, a caminho -, de que a Filosofia assumiria uma nova postura no itinerário formativo do cidadão brasileiro.

A questão nevrálgica, no entanto, não se refere ao reconhecimento das instâncias guardiãs das políticas e regras educacionais do país. O grande desafio é saber o nível de acolhida por partes das instituições educacionais, sejam elas públicas ou privadas.

O que aqui discorreremos se trata mais de uma partilha de experiência do que propriamente uma análise acadêmica de questões relevantes para uma possível pesquisa. Para tal, requere-se outros elementos que vão além dessa nossa partilha. Para tanto, discorreremos em dois momentos assim organizados:

1.       A importância e o alcance da prática da filosofia.
2.       O lugar da Filosofia ainda é próprio para um verdadeiro filosofar.

Assim, tais questões exercem uma dupla função: a importância do reconhecimento da filosofia como elemento basilar no currículo escolar e a consciência de que esse reconhecimento não basta para a implementação de um processo sério do ensino de Filosofia, em especial no Ensino Médio.


1.      A prática do ensino de filosofia – um ensino da prática ou uma prática do pensar?


Uma das questões que estão muito presentes na de professor de Filosofia no Ensino Médio é: se Kant diz não ser possível ensinar filosofia, mas filosofar, o que compreende o ensino de Filosofia: uma prática acerca do pensar ou um pensar acerca da prática? Mais que um jogo de palavras, isso revela que a Filosofia está imerso num processo de eqüidade que visa promovê-la ao Status de utilidade no currículo e na distribuição dos horários escolares. As mesmas exigências e aplicabilidades das demais disciplinas acabam sendo reproduzidas pelo Ensino da Filosofia. O professor passa a ser mais um profissional conteudista do que propriamente um facilitador do processo de filosofar.

Nesse ínterim, tanto a disciplina, como os seus parâmetros da prática, acabam sendo reféns do projeto político-pedagógico de cada instituição, levando em consideração que nem todas as instituições prezam pela prática da elaboração de tal projeto. Isso quer dizer que em primeiro lugar não há uma indagação acerca do “algo” que a Filosofia pode causar. Há, sim, indagações acerca da aplicabilidade da Filosofia nas intenções utilitaristas e/ou ideológicas do tipo de ideia que se quer conceber e de cidadão que se quer formar.

Tratando-se de instituições escolares públicas, a Filosofia encontra o seu lugar por força das exigências, no entanto, quase sempre é uma disciplina preterida em relação às demais, incluindo o descaso com o profissional formado em Filosofia, quando redimensionam outras pessoas para trabalharem tal disciplina sem que as mesmas estejam munidas de condições mínimas para tal função.

A Filosofia passa a ser, então, um apêndice escolar, ao qual podem se dirigir qualquer uma das áreas, como que uma simples conversa ou uma simples reunião já configurasse o processo de ensino de Filosofia. Essa prática nega à Filosofia um lugar que lhe é próprio, enquanto saber que perpassa todos os saberes, mas que não os restringe e nem restringe a si. Trata-se de um saber “dialogante” (para indicar uma ação-agindo-fazendo-se-configurando”). Um saber que não reclama a supremacia, mas não abre mão da sua identidade.

Tratando-se de instiuições escolares particulares, a Filosofia encontra uma profunda resistência enquanto processo de filosofar. Interessa a essas instituições uma exigência básica: a aplicabilidade da Filosofia ao processo de Vestibulares. Assim, dependendo da configuração de Vestibular, os programas escolares precisam se adequar, incluindo os programas do ensino de filosofia, às exigências temáticas de tais exames de seleção. Nesse sentido, a Filosofia precisa ser subserviente à estrutura de Vestibular, onde nem sempre se preza pela palavra-reflexão, mas pela arte de assinalar um conjunto de possíveis alternativas que, segundo o autor das questões, melhor se configuram com o que ele ou seus manuais assim entendem na referência a determinadas temáticas.

Exemplo disso, foi a primeira fase do Vestibular de 2009 de uma dada Universidade, quando dentre as seis questões elaboradas, quatro apresentaram problemas estruturais e ambigüidades conceituais, levando os alunos não apenas a uma confusão acerca das possíveis respostas, assim como, a uma afirmação em uníssono – hoje mais superada que antes - de que a Filosofia se refere a “uma viagem-viajante”.

Assim, as escolas particulares - não se tratando de uma generalização, acabam se tornando reféns dos processos de “treinamento conceitual” exigidos pelos vestibulares. Estudamos temáticas e, a partir delas, treinamos formas melhores de assinalar alternativas.

Será a Filosofia uma prática ou uma técnica? Se for técnica, então qualquer um poderá treinar, exigir a sua prática, pois qualquer um pode passar conceitos, pode conceituar temas e, consequetemente, poderá também encontrar artifícios de melhor assinalar a alternativa correta nos vestibulares. Se for uma prática, por sua vez, exige-se mais: requer-se escolas abertas para formar mais que técnicos da filosofia, mais que feitores de exames.

O filosofar requer espaços e recursos próprios: filosófico e pedagógico. Quase sempre, o espaço disponível é apenas a sala de aula. Uma ressalva: a sala de aula organizada não pelo professor-organizador do processo, mas pela linha educacional a que o professor deve submeter a própria filosofia. Os recursos precisam ser aqueles que têm a obrigação de atender ao tempo-limite exigido para cada assunto. Assim, espaço e tempo, passam a ser elementos pré-determinados pela lógica à qual melhor se adequou a instituição. A filosofia passa a ser uma aula de temas, cuidadosamente trabalhados, para não ferir os horizontes de uma ética ou de uma prática de costumes que contrarie o que se pensa ser o melhor caminho. E, aí, então, a Filosofia perde um pouco de si.

No que se refere ao espaço pedagógico, vemos que há cada vez mais um expressivo equívoco na consideração do que se possa chamar pedagógico. Boa parte das escolas particulares, e não todas, repito, são administradas pelas leis de mercado, onde há um cliente para ser atendido e uma empresa para atender às necessidades do cliente. Assim, os coordenadores e gestores escolares se preocupam em atender a demanda. Poucos têm uma formação pedagógica adequada para tal função, acarretando uma incompreensibilidade acerca da importância epistemológica dos saberes que se inter-cruzam nas mais diferentes disciplinas. Nisso, a Filosofia acaba sendo mais o cumprimento de uma exigência legal e técnica do que propriamente atenção verdadeira a um processo importante na configuração de elementos formadores de humanidade e cidadania.

Assim, a filosofia entra no mesmo hall de outro saber qualquer. Compromete-se o processo. O aluno é mais um receptor de conceituações temáticas do que protagonista do filosofar. Cabe-lhe, apenas, aprender o melhor caminho para assinalar, sem titubear, alternativas pré-estabelecidas, aprisionadas num campo que pouco diz acerca do verdadeiro filosofar.

O que boa parte dos livros didáticos propõem quase sempre se torna impraticável, uma vez que na sua maioria eles propõem elementos para filosofar e não apenas para jogar temáticas isoladas. O ensino de filosofia, equiparado a todos os outros, torna-se pedagogicamente inviável quando também intenciona igualar os métodos e os processos. E isso gera, nos alunos de Ensino Médio, um horror à Filosofia, imprimindo-lhes um sentimento de repulsa eterno a tal disciplina, ao ponto de chegar à Universidade ansiando por não tê-lo em seu currículo. Essa ojeriza, no entanto, é marcada pela forma que se trabalha a Filosofia, não sendo a responsabilidade apenas para o professor ou o material proposto, mas pela própria organicidade pedagógico no qual está inserido o processo.

E o aluno, como fica nesse processo? O aluno fica na condição de cliente. O que lhe agrada passa. O que não agrada, mas é necessário, ele vai considerando como pode. É o que acontece quase sempre no ensino de Filosofia: os alunos o suportam, não necessariamente o desejam.


2.      Luzes que iluminam um verdadeiro filosofar no ensino escolar

O Ensino da Filosofia não é algo que se apresenta apenas a partir de sombras. São também elementos norteadores de luzes. Não podemos ser pessimistas ao ponto de achar que não se está realizando algo. Sim, o ensino da Filosofia está acontecendo, mesmo que não intensamente a partir do filosofar, mas está acontecendo. A questão principal é como está acontecendo.

Assim, caracterizamos como sendo elementos de positividade na prática do ensino escolar a partir da nossa experiência:

a)     A conquista de um espaço diante das disciplinas tradicionais – geralmente preterida em relação às demais disciplinas, a Filosofia está tendo o seu espaço, mesmo que ainda restrito;
b)     Há espaço para o professor criar o locus que lhe é próprio – mesmo que haja orientações que muitas vezes restringem a prática do filosofar, o espaço que o temos, enfaticamente o de sala de aula, apresenta, mesmo que mínima, a possibilidade de reinventar o ensino de filosofia e torná-lo participante, em que os alunos se sintam realmente parte do processo. Elemento que não é fácil e nem simples;
c)      Existe profissionalidade por parte de quem trabalha no ensino de filosofia – cada vez mais as instituições prezam pela seriedade em contratar professores que possam nortear o ensino da filosofia a partir de competências básicas fundantes.
d)     Apesar de ainda ser um ensino temático, é factível a relação com a história da filosofia – dependendo de como aconteça o processo de proposição da Filosofia em Sala de aula, é possível o resgate das bases históricas de tal temática, não se completando, devido a impossibilidade quase que óbvia da ausência de possibilidades de um verdadeiro filosofar enquanto processo de dizer a palavra e relacionar o dito.
e)     O processo da transversalidade de saberes que gera uma possível interdisciplinaridade – ainda distante de ser disciplinar, a prática escolar já desenvolve conteúdos e elementos de convergência e confronto, gerando a possibilidade de saberes que recorrem uns aos outros e se complementam mais como problematizadores do que propriamente detentores de univocidade epistemológica.


Conclusão

A partir dessas breves palavras que aqui discorremos, mesmo sem citar  Instituição ou mesmo sem apresentar um tipo de avaliação de conduta dos seus sujeitos, quisemos aqui elaborar algumas inquietações que se fazem presentes na nossa prática escolar.

Urge a consideração de que tanto as sombras quanto as luzes se fazem presentes. Mais sombras que luzes, hoje. No entanto, uma consideração final é necessário que se faça: o processo de filosofar está distante dos nossos bancos escolares, apesar do ensino de filosofia estar mais próximo. Requer-se uma conversão de sentido. Enquanto não ocupar o seu verdadeiro espaço, métodos e tempos próprios, a Filosofia não acontecerá nas nossas escolas como processo, mas como algo dado, a ser passado, conteudisticamente a ser trabalhado.

A abertura ao filosofar precisa acontecer. O amadorismo do ensino de filosofia precisa ser superado por uma nova ordem que não está no interior da instituição escola, mas na coletividade de todos os sujeitos envolvidos na tarefa educativa, geradores da identidade educacional em tal espaço. Oxalá um dia possamos ver a filosofia assumindo o seu verdadeiro papel de ser um elemento formador de consciências não cristalizadas e abertas, aptas a pensar o mundo, os sujeitos e os próprios processos.

sábado, 11 de junho de 2011

Ao amor que amo...

Um dia o teu olhar cruzou com o meu.
Era maravilhoso..
Os sonhos nos vinham em forma de intensidade, permeando nosso coração valente e amendrontando os nossos próprios medos.
As esperanças nos vinham em forma de sonho, porque sonhar já não era mais o olhar distante de quem buscava... era, sim, a realidade acontecendo em forma de encontro...

E então nossos corações se apaixonaram, o seu e o meu, para pulsar em forma de vida a consaguinidade do amor amado, tirado, buscado, sentido no pulsar forte de cada um de nós..

E nós, ali, parados, estatelados sem coragem de ir.
Sem coragem de falar porque o silêncio era a melhor contemplação para viver aquele momento único.
O mistério nos invadia porque não tinhamos elementos para descrever o encontro, o entreveramento dos nossos seres e dos nossos olhares...

E por um instante pensei que nos perderíamos um do outro em forma de ausência, tão presente...
Não era perda, era encontro. Não era medo, era ousadia. Não era paixão, já era amor.

E assim, acreditei na cumplicidade de amar.
De um simples olhar encruzilhado no horizonte da vida, vislumbrei um amor eterno, um amor amado, um amor ao amor que amo...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O papel do psicopedagogo na gestão escolar

II FÓRUM FACOL EM LIMOEIRO


Prof. Ms. Patrocínio Solon Freire[1]

Somos do tecido com o qual se fazem os sonhos
(Shakespeare)

O possível é um pássaro misterioso sempre
 planando acima do homem
(Victor Hugo)


Quero agradecer à Coordenação do II Fórum Facol, na pessoa do Prof. Mazurky Gomes, pelo convite que me foi feito. Sinto-me ousado em ocupar esse espaço. Mas ao mesmo tempo honra-me saber que as atenções de hoje foram orientadas por um único eixo: Educação e Administração. Venho de um mundo que é de sonhos... sou filho de mestres e mestras sonhadores. Pessoas que souberam administrar com maestria os caminhos da educação.

E quando digo que sou ousado em ocupar esse lugar sinto-me na obrigação de dizer que muitas pessoas poderiam estar aqui no meu lugar. Isso me tranquiliza. Mas, ao mesmo tempo, me responsabiliza. O tema a mim oferecido refere-se ao papel do psicopedagogo na gestão escolar. Grandes mestres e mestras já foram capazes de discorrer acerca desse tema. E isso nos dá uma liberdade maior para tocarmos em aspectos indiscutivelmente necessários à compreensão do enlace entre pisicopedagogia e gestão escolar.

Quero, no início da minha fala, convidar a todos para fazer uma viagem pelo livro da nossa vida, o livro da nossa existência. A existência é um belíssimo livro. Ninguém pode fazer uma excelente leitura desse livro se não aprender a ler as pequenas palavras. Estamos falando das coisas simples. Da simplicidade das coisas.

Um país, nos diz Rubem Alves, “se constrói da mesma forma como se constrói uma casa”. Essa casa é um sonho. Mas não se pode morar numa casa sonhada. Os sonhos, sozinhos, são fracos (...) O sonho, para transformar a casa sonhada em casa de verdade, chama em seu socorro a inteligência. A Inteligência é o poder que torna possível a realização dos Sonhos. Um país é uma casa grande onde construímos nossas pequenas casas. Um país é uma casa de casas... constrói-se um país da mesma forma como se constrói uma casa. Com uma diferença. Para eu construir a minha casa, bastam o meu Sonho e a minha Inteligência. Mas, para se construir essa grande casa chamada país, é preciso que muitos sonhem o mesmo sonho (...)

As escolas devem ser o espaço onde alunos e professores sonham e compartilham seus Sonhos. Mas os Sonhos não bastam... requer-se a inteligência...

O que sobrou em você de tudo o que você teve de aprender na escola? Você esqueceu, porque aqueles saberes não eram resposta aos seus sonhos. É assim que construímos a nossa vida: com Sonhos e Inteligência. É assim que se constrói um país melhor: com Sonhos e Inteligência. Esse é o programa da educação”.

Falar de psicopedagogia e gestão escolar é falar de uma mesma realidade: a educação. É esta a missão da educação: humanizar as pessoas e tornar humanos os seus atos enquanto atos condutores de significativadade; formar um povo, ajudar as pessoas a sonhar sonhos comuns para que, juntas, possam construir.

Mas construir o quê? para quê e para quem? Uma educação para as escolas apenas? Uma educação humanizadora requer um debruçar-se sobre os processos humanos: suas idiossincrasias e seus ideais. Nesse ínterim, encontram-se educadores e educandos, sujeitos de um mesmo processo, atores e autores de uma mesma tarefa pedagógica, porém, distinta pelas formas e posições que ocupam.
Assim, há de se perguntar pela relação entre psicopedagogia e educação não a partir dos sujeitos de fora da instituição escolar, mas a partir dos sujeitos de dentro. Para tanto, precisamos localizar os contextos: o que significa na realidade psicopedagogia e gestão escolar. A partir disso, poderemos trazer os elementos que nos farão implementar a ação psicopedagógica enquanto instrumento da Inteligência Criativa: lugar onde se concretiza o encontro.

1.    A psicopedagogia e Psicopedagogo

Logo que vemos o nome psicopedagogia de imediato associamos à ideia de psiché, de forma mais expressiva, enquanto instrumental de trabalho pedagógico a disposição dos gestores e professores nas instituições escolares. Esquecemos, porém, que a psiché é uma caracterização do aspecto humano que orienta para elementos da alma, elementos do espírito que se desenvolvem em forma de personalidade dos sujeitos. Então, damo-nos conta de que a psicopedagogia não é o reduto de psicólogos que ali estão para teorias ou concluir esquemas científicos. Damo-nos conta de que a psicopedagogia é um campo aberto de

“... atuação em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana, seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio-família, escola e sociedade, no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.” 
(Código de Ética da ABPp, 1996)

“Área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os”
( Scoz, 1992)

A psicopedagogia tem um papel decisivo no bom desempenho escolar, pois trabalha com as dificuldades de aprendizagem e suas vicissitudes.

 
  1. O encontro e suas formas


♦ A análise de diversos modos de realidade nos permite uma descoberta decisiva na vida humana: o encontro só é possível entre âmbitos, não entre objetos.
☺ Entreveramento: forma de presença – um modo altíssimo de união que ocorre de forma particular na inter-relação de duas pessoas
☺Transformação de objeto em âmbito (?) – significa: possibilidade de agir com sentido a partir do encontro.
Novo humanismo da unidade: o encontro do ser humano com outras pessoas e com outros elementos que possuem ou podem possuir o caráter de âmbito.

O encontro implica um entreveramento de âmbitos

Relação de proximidade e presença: implica criatividade: modo valioso de relação.
            presença – proximidade lúdica: intercâmbio de possibilidades.
            proximidade – eliminação da distância espacial.
♦ Novo esquema mental: do EU-ISSO                EU-TU = modo de conceber as relações.
♦ Teoria dos âmbitos: relação com realidades que não são nem ISSO e nem chamadas Âmbitos de realidade.
♦ Um entreveramento do condutor e do veículo:
            ☺condutor + carro = campo operativo – um campo de ação = “âmbito”
☺oferta mútua de possibilidades supõe um entreveramento criador = uma forma fecunda de unidade -  “acoplar-se ativamente”.
☺ motociclista + “pacote” = relação de interação com a moto
uma terceira realidade: a moto no ato de ser conduzida e o ato de condução, entrelaçamento de dois âmbitos, unidade na qual adquirem pleno sentido as realidades que a integram.

O jogo criador transforma os objetos em âmbitos

outorgar aos objetos o caráter de âmbito possibilita o encontro: realidade transfiguradora.
            ☺ mesa (trabalho), tábua quadrada (xadrez), poltrona (descanso), presente
            ☺ rede de interações constituída pela nossa existência humana autêntica.
☺os bens que a pessoa possui adquirem um nível elevado quando são assumidos numa relação de amor oblativo, generoso: deixam de ser meios para os próprios fins e satisfação, convertendo-se em meios nos quais se estabelecem relações de encontro.
☺ o mundo adquire caráter caseiro quando o homem aprende a habitar, no sentido ativo de criar tramas de vínculos amistosos: “Descobri uma grande verdade, a saber: que os homens habital [...] e que o sentido das coisas muda para eles de acordo com o sentido da casa” – “cativar significa criar laços” (Saint Éxupéry).

A fecundidade da ampliação da ideia de encontro.

A descoberta dos âmbitos e de seu poder de entreverar-se amplia a ideia de encontro e alarga horizonte da vida humana de forma inimaginável. Transforma nossa visão de universo e d enossa situação nele. Orienta nossa atividade a um ideal muito mais ajustado ao ser do homem: o estabelecimento de modos relevantes de unidade.
☺aquele que cria vínculos e converte a siimples morada em lar enche sua vida de sentido até às bordas e se sente alegre e feliz.
☺ o vazio espiritual se transforma em plenitude e o desespero, em felicidade interior quando ohomem abandona o afã de dominar realidades, reduzidas a objetos, e se dedica a colaborar (“participar”) com elas, consideradas como âmbitos = entreveramento de âmbitos.
a participação do homem na realidade qu eo rodeia realiza-se pela via do entreveramento de âmbitos, não do domínio de objetos ou de realidades não-objetivas reduzidas a objetos.



2.1.O encontro inter-humano e suas exigências

“Encontro”: significar entreverar um âmbito de vida próprio, e o quanto ele implica, com realidades que possam oferecer possibilidades e receber as que lhe são outorgadas. Quanto maior for o número de âmbitos que se entreveram mais elevado e fecundo será o encontro.
            ☺é um acontecimento relacional.

Como estabelecer modos valiosos de unidade

a primeira condição para estabecer modos elevados de unidade é combinar modos de realidade diferentes e complementares.
☺as realidades que combinam em si diversos modos de realidade – o objeto e o ambital – têm o poder de manifestar-se dotadas de possibilidades.
☺o encontro não acontece em qualquer tipo de realidade: somente nos âmbitos.
♦ Questões básicas na formação humana: o que é o encontro, quais são suas exigências, que frutos ele produz, qual é o seu veículo expressivo.

O que é o encontro

Encontro: significa entreverar o próprio âmbito de vida com o de outra realidade que reage ativamente diante da minha presença.
            ☺ encontrar-se é achar-se presente, intercâmbio de possibilidades.
☺ o sorriso enquanto encontro e integração expressiva: “os intelectuais desmontam o rosto para explicá-lo por partes, mas já não vêem o sorriso” (Saint-Exupéry).
☺o sorriso é encontro porque mobiliza o conjunto da pessoa.
A forma de modelar de encontro ocorre entre seres pessoais.
☺Ser humano – modos de realidades mais distintos: o material-corpóreo e o psíquico-espiritual.
            ☼ sumamente expressivo: intimidade que pode ser revelada ou ocultada.
☼ sabe que tem um “dentro”, um lugar reservado onde se sente independente, livre, autônomo, absoluto.
☼ cada pessoa tem um caráter próprio. É irredutível  aoutras. É insubstituível, impermutável.
            ☺ a pessoa assume apelos e respostas.
apelar: significa convidar a assumir ativamente um valor e realizá-lo na própria vida.
responder: implica assumir um valor, e a forma de fazê-lo constitui um apelo a quem fez o primeiro convite.
☺entre pessoas, seres abertos à vida criativa, o entreveramento é mais intenso e fecundo do que entre uma pessoa e um âmbito infrapessoal, ou entre dois âmbitos infrapessoais.
☼ importante: converter a proximidade em colaboração ou entreveramento de âmbitos.
☼ para ser criado, esse ato coloca uma exigência concreta:  assumir as exigências da criatividade, que são as mesmas do encontro: “o homem é criador em diálogo, não a sós. Ao estudarmos por dentro e nos pormenores as condições que tornam possível o diálogo, descobrimos a articulação interna dos processos criativos. E isso significa uma inserção no mais profundo da vida humana. À medida que fomos nos aprofundandando nela, veresmos nitidamente que pensar com rigor e viver criativamente se implicam e se ajudam entre si.

Exigências do encontro

♦ Primeira exigência: atitude de generosidade e abertura de espírito.
☺ “Para encontrar-me com você, preciso tratá-lo como um tu, não como um isso. Preciso respeitar sua condição pessoal, vê-lo como uma realidade autônoma, um centro de iniciativa. Quem diz tu a um outro não possui coisa alguma, não possui nada, mas está em relação” (Buber).
☺ o valor da relação está no caráter criador de tal relação.
Diálogo: campo de jogo e de iluminação: lugar de enriquecimento.
☺ Na colaboração e não na dominação, é que reside uma certa dose de generosidade.
♦ Segunda exigência: situar-se a distância justa.
            ☺a posição de proximidade a distância chama-se RESPEITO.
☺ entreveramento de duas realidades: devem ser distintas e não estranhas; próximas, não fundidas; a distância, mas não afastadas = essa distância fecunda não comporta o afastamento, mas a PERSPECTIVA: “Ter perspectiva é indispensável em todo jogo” (físico e lúdico).
☺ dois tipos de distância: a física e a espiritual: “A ‘distância de perspectiva’ e a vontade de colaboração.
“A presença pede equilíbrio entre imediatez e distância”.

Âmbito + Âmbito = Encontro
Imediatez + distância = Presença: significa um ponto de equilíbrio entre dois extremos, que são a fusão e o afastamento.
Presença: Fusão ← Imediatez + distância → afastamento

a distância pode se desestruturar e converter-se em afastamento. Ao afastar-se, ohomem perde o contato com a realidade à qual deve se unir, tornando impossível a presença e o encontro: “A degeneração da distância é o afastamento” – “todo conhecimento pede distância de perspectiva” – capacidade de sobrevoar o que acontece “na obra”.
♦ Terceira exigência: evitar o reducionismo.
☺ um ser só estabelece relações de jogo, presença e encontro quando age com toda energia e sua riqueza de possibilidades, quando age como âmbito e não como objeto.
“Ir é estar em nós mesmos...”
♦ Quarta exigência: tolerar o risco que implica a entrega. O encontro nos traz riscos. Sem encontro não podemos realizar-nos como pessoas.
            ☺ duas formas pelas quais nós mesmos podemos conceber e orientar nossa existência.
☼ a criatividade por meio do risto – filosofia dialógica ou personalista: próximo a uma certa distância.
                        ☼ a segurança sem criatividade – o vitalismo: amparo da fusão ou do domínio.
Quinta exigência: estar disponível ao companheiro de jogo. Atitude disponível a correr riscos – assumir as outras possibilidades que as outras realidades oferecem.
♦ Sexta exigência: veracidade e confiança. Mostrar-se quem é para entreverar o meu âmbito com o seu. As máscaras geram desconfiança. Da confiança, brota a confidência, aceleração do encontro: confiança, confidência, fidelidade e fé (fid): fiducia, confidência, fidelitas, fides) – engendram intimidade pessoal.
♦ Sétima exigência: a gratidão e a paciência. O agradecido acolhe de bom grado tudo aquilo que o enriquece; é paciente aquele que sabe ajustar-se ao ritmo de outras pessoas, ao tempo que imprimem ao seu comportamento.
Oitava exigência: capacidade de admirar o que é valioso e de se surpreender. Para surpreender-se  é necessário ter capacidade de admiração e de surpreendimento. A pessoa é capaz de admirar o grande e o sublime quando está orientada para o alto. O homem aberto desse modo funda espaços de acolhimento do valioso.
Nona exigência: a compreensão e a simpatia. Atitude compreensiva requerum imenso respeito à pessoa do outro, dando-lhe categoria. Simpatia: a facilidade para sintonizar com os demais, para ajustar-se aos seus gostos e ao seu modo de ser, para ritmar o passo com o deles, vibrar com suas aventuras e desventuras.
Décima exigência: a ternura, a amabilidade, a cordialidade. O entreveramento implica uma forma intensa de união que deve ser facilitada pela doçura de tratamento, pela cordialidade, pela amabilidade, pelo bom humor, pela suavidade de expressão.
Décima primeira exigência: a flexibilidade de espírito. Quem é flexível se mostra pronto para conectar-se com os outros para adotar a perspectiva deles e descobrir a parte da razão que eles eventualmente possam ter (ex. diálogo).
Décima segunda exigência: a fidelidade. É a capacidade espiritual – virtus – de dar cumprimento às promessas. Prometer é uma ação soberana, que implica lucidez e liberdade. A fidelidade para ser criadora, está unida à flexibilidade, não à teimosia.
Décima terceira exigência: partilhar valores e, sobretudo, o grande ideal da vida. Entreverar implica partilhar os valores, especialmente os mais altos, que culminam no valor supremo, aquele que dá sentido a tudo: o ideal. O verdadeiro ideal: criar formas valiosas de unidade.


Quem aqui já assistiu “Patch Adams – o amor é contagioso”, deve se lembrar do momento em que a comissão médica iria julgar se ele era apto ou não para o exercício da medicina por conta do funcionamento de um clínica. Quando perguntado se ele havia tratado de pacientes, ele assim responde:

“... Cada um que vai à clínica é paciente. E cada um que vai também é médico. Todos precisam de alguma forma de ajuda física ou psicológica. São pacientes. Mas todos que vão também cuidam dos outros. Cozinhando, limpando ou simplesmente ouvindo. Isso faz deles médicos. Desde quando deve-se tratar o doutor com tanta reverência? Quando o doutor passou a ser mais que o amigo de confiança e de conhecimento que visita e trata dos doentes? Se praticar a medicina é receber os que precisam de ajuda, que sofrem, cuidar deles, ouvi-los, pôr compressas frias até a febre baixar. Se isso é exercer a medicina ou tratar de pacientes, então eu sou culpado.

Ao que lhe é indagado: “...E se morresse um paciente”...

Respondeu ele: “...Que tem a morte de errado? Por que não tratarmos a morte com humanidade...dignidade, decência e até com humor? A morte não é um inimigo. Se quiserem enfrentar um mal, enfrentem o mal da indiferença (...) Todo ser humano causa impacto nos outros (...) por que evitar a relação? (...) o que ensinam está errado. A missão do médico deve ser não apenas a de evitar a morte, mas melhorar a qualidade de vida. Tratando o mal, se ganha ou se perde. Tratando o indivíduo, garanto que vão ganhar (...) não se deixem anestesiar pelo milagre da vida. Sempre se extasiem pela glória do corpo humano. Concentrem-se nisso e não em procurar notas que não indicam o tipo de médico que serão (...) não esperem demais para recuperar a humanidade. Aprendam a entrevistar, a falar com estranhos, com amgos, “enganos”, com todos (...) aprendam a ter compaixão. (...)  e conclui: “QUERO SER MÉDICO DE TODO O MEU CORAÇÃO! Queria ser médico para ajudar o próximo. Por causa disso perdi tudo, mas também ganhei tudo (...) compartilhei da vida de muitos. Rimos e choramos juntos. Quero dedicar a vida a isso. E hoje, seja qual for sua decisão, juro por Deus que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo. Podem impedir que eu me forme. Podem me negar o título e a bata branca. Mas não podem dominar meu espírito nem evitar que aprenda. Não podem me impedir de estudar. Portanto, têm uma escolha. Podem me ter como um colega apaixonado ou como um intruso, mais ainda inquebrantável. Seja como for, ainda vou ser um espinho. Mas prometo, vou ser um espinho que não podem arrancar. 

Que a mágica dessa palavras iluminem as nossa ações e a nossa educação.
A título de conclusão, gostaria de convidá-los a revisitarem os sonhos humanos... os desejos dos jovens. Façamos o salto do nosso mundo para o mundo dos jovens. Um mundo de angústias, mas de profundas potencialidades; um mundo em mutação, mas cheio de sentido; um mundo de questionamentos e denúncias, porém, encantado pela potencialidade única de nos chamarem para a dança... de aprendermos novos passos e, junto com eles, também ensinarmos na cumplicidade de quem ama.

O pátio, queridos educadores e educadoras, é a tua sala de aula; e a sala de aula, queridos educadores e educadoras, é a tua vida . É lá realmente que deves conhecer o jovem que deves amar.

É este o nosso sonho... é esta a nossa esperança. Somos nós e os outros...somos em encontro. Findo citando o Eterno pastor de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara: NINGUÉM DE NÓS É MAIS IMPORTANTE DO QUE TODOS NÓS JUNTOS. Muito Obrigado!













[1] Pesquisador da área de Teoria e História da Educação, Educação e Espiritualidade, Filosofia da Educação e Formação Humana. Mestre em Teoria e História da Educação (UFPE), Especialista em Gestão Educacional (FEBA-BA) e Teoria e Meios de Comunicação Social (PUC-SP), Bacharel em Teologia (UPS-Roma) e Licenciado em Filosofia (UNICAP). Atualmente desenvolve pesquisa doutoral (UFPE) na área de Educação e Espiritualidade, versando estudos sobre integralidade humana e Educação. Atua no magistério do Ensino superior (graduação e pós-graduação) e exerce atividade de consultoria educacional nas diferentes instituições de Ensino.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Buscar o que vale a pena...

"IN NECESSARIIS, UNITAS. IN DUBIIS, LIBERTAS. IN OMINIBUS, CHARITAS..."

("Nas coisas necessárias, a unidade. Nas duvidosas, a liberdade. Em todas, a Liberdade, o amor")

domingo, 5 de junho de 2011

As palavras de uma mãe valem tanto...

Há 170 anos era ordenado sacerdote católico em Turim, Itália, o jovem João Melchior Bosco. Era o dia 05 de junho de 1841. Momentos antes da sua ordenação, sua mãe Margarida Occhiena o chama de lado e diz:

- Meu filho, quando você nasceu eu o consagrei a Nossa Senhora. Hoje você se torna sacerdote. Lembre-se: começar a rezar missa é começar a sofrer!

Naquele momento suas lágrimas já não se sustentavam no pranto interior que lhe invadia. A mãe, mulher analfabeta e sábia, de grandiosidade estupenda, continua a sua fala:

- Se algum dia duvidares da tua vocação, não tenha medo de tomar o caminho certo. Não desonra o hábito que hoje vestes. E outra coisa: se algum dia pensas em desonrar o hábito, não pense duas vezes em deixá-lo, pois prefiro um camponês ignorante a um sábio padre que desonra as suas promessas.

As palavras de sua mãe soaram por toda a vida do jovem sacerdote. Aquelas palavras o tornaram mais forte no seu trajeto de serviço aos mais pobres, em especial à juventude. Aquelas palavras o fizeram melhor desempenhar o ministério assumido naquele dia, o fizeram ser mais DOM BOSCO.

Palavras de uma mãe a um jovem sabido de teologia e de filosofia. Uma mãe analfabeta, marcada pela sabedoria da vida e certa de que o bem maior é perceber a vontade de Deus.

Quando pequenino, Joãozinho Bosco era educado e catequizado pela mãe. Como não sabia ler, ela apontava para o céu e dava aulas sobre a criação olhando para as criaturas. Uma mulher que, sendo analfabeta, tornou-se o espelho de educação de um dos maiores educadores do Século passado.

Qual o papel da mãe no processo de educação dos filhos? Qual o papel dos filhos na educação das mães?

Seria muito ruim pensar que na vida não teríamos mãe. Seria muito ruim pensar que nos bastamos. Que aquela mulher que um dia sabia de tudo sobre nós, hoje não sabe mais. Que aquela mulher que antes tinha um vigor invejável, músculos ágeis e um físico prudentemente trabalhado, de repente hoje não mais se apresente com tamanhas características.

Mas um dias nossas mães serão diferentes. Elas não mais terão aquele vigor realmente. Elas serão como 'plumas' ao vento, leves como a candura dos anjos e inocentes como o coração de uma criança.

Um dia nós talvez façamos chacotas das suas palavras, das suas (his) estórias, das suas paixões. Um dia, talvez ela não mais entenda o que a gente quer dizer ou o que a gente quer fazer.

Um dia, com certeza, talvez elas não mais farão parte do mesmo vagão no qual embarcamos. Em alguma estação ela ou nós desembarcaremos.

E aí nos virá a lembrança, a vontade de ter vivido mais ao seu lado. A vontade de ter brincado mais, de ter sentido melhor o seu cheiro. A vontade de não ter lhe respondido mal, ou termos pensado que pelo avançar da idade ela talvez não entendesse mais de filhos.

Nossa mãe sempre entenderá de filhos. Ela pode até não saber do que a gente sabe, mas sabe o que a gente é. Ela pode até não ser doutora ou passar no vestibular, mas com certeza ela já terá passado no maior de todos os concurso da vida: o ato sublime de dar a luz!

Portanto, se a nossa mãe é jovem ou idosa, analfabeta ou letrada, isso de nada importa. Importa que as palavras dela valem mais que qualquer tesouro. O seu sorriso e a sua presença valem mais do que qualquer estudo ou conhecimento. O seu abraço e o seu cheiro tem sabor de eternidade.

E aí, um dia, se ela ou a gente partir, a nossa lembrança terá o gosto mágico de presença e não de ausência. Teremos a certeza perene de que as suas palavras continuarão a soar como conselhos eternos de quem um dia acreditou que as palavras de uma mãe valem tanto quanto a eternidade.

Filosofia do biscoito

Vejam que interessante: o supermercado também é lugar de Filosofia. É uma ágora moderna. O poder de compra quase sempre nos liga ao poder social, ao status do indivíduo na sociedade. Mas o poder de filosofar em pleno supermercado é algo diferente.

Ontem, na fila do supermercado ouvi um diálogo em mãe e filho. Ambos estavam fazendo pequenas compras. Em um determinado momento ela o indaga:

- veja, será que esse biscoito é bom?

Ao que que ele responde:

- Bom, até que pode ser. Mas bom mesmo vai ser o preço destes CDs que estou comprando para gravar alguns filmes para o meu amigo e ainda terei que enviá-los pelo correio. Como custa caro ter amigos!

E mãe indaga:

- e vale a pena?

Ele responde:

- até que vale. Nesse caso, vale! Há amigos que escolhemos e amigos que não escolhemos. Como dizia Napoleão: se você não fizer escolhas outros as farão por você. Até mesmo as escolhas ruins, quando assumimos, ficamos satisfeitos quando nos damos conta de que foram nossas e não de outros.

E a mãe respondeu:

- é... vou levar o biscoito!!!

E onde entra a Filosofia? Está no diálogo. Na maiêutica desenvolvida pela dupla de interlecutores na fila de um supermercado e ouvida por mim.

É interessante que no areópago do consumo - um supermercado - ouçamos diálogos semelhantes ao do areópago de Atenas. Mudam apenas o sujeitos. Aquele homem e aquela mulher eram sujeitos do diálogo. Faziam das suas preocupações diárias elementos da sua própria vida.

Partindo de um biscoito, um simples biscoito, chegam ao que é sublime e Transcendente: a arte de fazer escolhas. Na imensidão do supermercado, mãe e filho criam um 'jardim' do diálogo. São capazes de perceber que mesmo ali, rodeados pela lógica mercadológica, não esquecem o que faz sentido, que de certa forma está lá fora justamente porque está dentro de si. A esse processo de percepção do interiore e do exterior, da interação e interrelação entre a teoria e a prática, Marx o chama de 'práxis'. Ali estava acontencendo um exemplo de práxis da vida.

Isso só nos certifica que a Filosofia não é e não deve ser uma viagem aleatória pelo intelecto. A Filosofia está ali: na vida simples das pessoas; nas reflexões puras da vida; na vitalidade genuína dos indivíduos; na relação de pais e filhos; na consciência crítica dos indivíduos diante do que está no meio social; no contato com os amigos.

A Filosofia é a Vida. É pensar sobre o que você fez e o que você faz. É saber que a sua vida tem parâmetros de realidade, onde se encontram sinais, elementos, capacidades. É saber que você vive no tempo e que esse tempo muitas vezes o pressiona e o im-pressiona. Saber que esse tempo faz você olhar para frente para logo chegar, o retardar a chegada do "logo" que não quer.

O Tempo é assim: é repentino, maravilhoso. O tempo é divino quando uma mãe espera um filho. O tempo é fatal quando um preso no corredor da morte conta os dias da sua execução; o tempo é divino quando logo passa e chega o dia do trabalhador receber o salário, o tempo é macabro quando logo passa e aproxima o dia de pagar as dívidas já tão abaladas pelo ritmo também temporal dos juros que assolam.

É assim a nossa vida. De um simples biscoito podemos chegar à reflexão das escolhas. De um simples biscoito vislumbramos sinais que eternizam ou temporalizam a nossa forma de ser...

sábado, 4 de junho de 2011

Bem e Mal: expressões da liberdade humana

Se há temáticas mais intrigantes que a discussão acerca do bem e do mal com certeza elas se juntam num mesmo hall de indagações. Santo Agostinho, na sua obra "O Livre Arbítrio", refaz o seu caminho de considerações acerca dessas temáticas e defende a ideia de que o mal não existe por si mesmo como um elemento absoluto. Absolutizá-lo seria colocá-lo no mesmo patamar do Bem divino, do bem proveniente unicamente do coração de Deus. Assim, o mal passa a ser não um adversário do Bem na mesma proporção de potencialidade. O mal passa a ser a "desvirtuação" do Bem. O que existiria, portanto seria o Bem enquanto realidade plena e absoluta porque provém da única e Absoluta realidade: Deus.
De onde provém o mal, então? Ali, expressa-se uma das primeiras considerações da Teologia do Pecado após os primeiros escritos cristãos presentes nas cartas do Apóstolo Paulo. A ideia de pecado é a ideia de perda. Perda de uma condição. Essa perda está diretamente ligada à ideia de mal, elemento contrário à soberana vontade divina. Desde então, Bem e Mal, Graça e Pecado, passaram a ser elementos de discussão nos diferentes areópagos das religiões, em especial o Cristianismo.
É interessante que ao pensar em Bem ou em Mal apenas nos preocupemos com a sua proveniência. Como que definitivamente só os cumprissemos pela confiança ou desconfiança na sua origem. Na vedade há algo muito maior que isso e que Santo Agostinho lembra nas suas obras, mesmo que para ele o fundamental seja seguir a risca o próprio Criador, que se confunde com a própria liberdade.
Numa perspectiva de Filosofia e Teologia, a Liberdade só se encontra no indivíduo. Não é o ato de saber a origem de algo que nos leva a optar. Pode até ser um dos elementos de análise, mas não será o único. O que nos leva a optar por algo pertence ao âmbito da Consciência humana, ao âmbito de escolhas livres que tocam ao que há de mais profundo no ser humano. A escolha livre e o exercício da verdadeira liberdade, ao contrário do que muitos teólogos puritanos possam pensar, inclui também a possibilidade de escolher o diferente, o oposto, a negação do que se espera como sendo verdadeira liberdade. A Liberdade não esbarra no âmbito da religião, mas a mesma a compreende. A Liberdade não resume a complexidade que o humano carrega, mas o considera como um ser aberto, capaz de fazer novas opções por elementos que lhe são interiores e não meramente dogmáticos ou exteriores.
A arte da liberdade, portanto, longe de ser resumida ao âmbito de dogmas que se cristalizam, é um campo aberto para a afirmação humana que se flexibiliza. Não se restringe aos caprichos de uma religião que dogmatiza a existência, mas também não pode se restringir aos exageros de ume existencialismo que relativiza a Transcendência. Não há liberdade fora da existência, assim como não há existência que não considere a possibilidade de Transcendência.
Nesse sentido, portanto, não podemos simplesmente nos preocupar com a questão da origem do Bem e do Mal. Temos que ir além. Como já dizia o próprio Kant, a questão não é simplesmente afirmar o universal, mas ver a possibilidade das suas aplicações morais no âmbito da decisão humana, no âmbito do dever.
Bem e Mal não nos importa. Importa-nos, sim, em que condições se opta pelos mesmos. Em que condições a razão humana opta por valores em detrimento de outros. O que na verdade é valor e o que se impõe como contravolor. O que na realidade é existência o que não passa de ilusão. Para nós, também isso corresponde ao TEMPO DE SER...