Caminho de Humanidade...

Há um caminho...
Nesse caminho encontramos amores e dissabores,
Nele não há certezas e honras.
Nesse caminho há apenas a vontade certa de penetrar o incerto, mergulhar no mistério e envolver-se pela contemplação de eternidade...
Ah... que eternidade!
A eternidade dos simples que se fazem no tempo.
O tempo dos fracos que se fortificam nos sonhos...
A vida vivida dos que comigo partilham a esperança...
E de repente, no caminho, jaz apenas o encontro: entre o EU que em mim centelha e o TU que em ti contemplo...
Caminhando, enfim, encontro com aqueles que aceitam ser simples; com aqueles que, sendo simples, tornam-se grandes e, sendo grandes, tornam-se detentores de uma sublime humanidade...




Não existe amor maior...

Não existe amor maior...
De repente a gente descobre que não pode mais estar sozinho... que nem a incompletude nossa é capaz de conformar-nos com a ausência de quem nos completa... E então a gente descobre que não pode viver sem o encanto, o carinho, a presença, o amor que Deus nos presenteia...

O que significa ser mestre...

O que significa ser mestre...
Neste dia, a maestria se fez presente na singeleza dos gestos e na simplicidade de quem é sábio na inteireza... de quem é inteiro na sabedoria e humanidade.

domingo, 5 de junho de 2011

As palavras de uma mãe valem tanto...

Há 170 anos era ordenado sacerdote católico em Turim, Itália, o jovem João Melchior Bosco. Era o dia 05 de junho de 1841. Momentos antes da sua ordenação, sua mãe Margarida Occhiena o chama de lado e diz:

- Meu filho, quando você nasceu eu o consagrei a Nossa Senhora. Hoje você se torna sacerdote. Lembre-se: começar a rezar missa é começar a sofrer!

Naquele momento suas lágrimas já não se sustentavam no pranto interior que lhe invadia. A mãe, mulher analfabeta e sábia, de grandiosidade estupenda, continua a sua fala:

- Se algum dia duvidares da tua vocação, não tenha medo de tomar o caminho certo. Não desonra o hábito que hoje vestes. E outra coisa: se algum dia pensas em desonrar o hábito, não pense duas vezes em deixá-lo, pois prefiro um camponês ignorante a um sábio padre que desonra as suas promessas.

As palavras de sua mãe soaram por toda a vida do jovem sacerdote. Aquelas palavras o tornaram mais forte no seu trajeto de serviço aos mais pobres, em especial à juventude. Aquelas palavras o fizeram melhor desempenhar o ministério assumido naquele dia, o fizeram ser mais DOM BOSCO.

Palavras de uma mãe a um jovem sabido de teologia e de filosofia. Uma mãe analfabeta, marcada pela sabedoria da vida e certa de que o bem maior é perceber a vontade de Deus.

Quando pequenino, Joãozinho Bosco era educado e catequizado pela mãe. Como não sabia ler, ela apontava para o céu e dava aulas sobre a criação olhando para as criaturas. Uma mulher que, sendo analfabeta, tornou-se o espelho de educação de um dos maiores educadores do Século passado.

Qual o papel da mãe no processo de educação dos filhos? Qual o papel dos filhos na educação das mães?

Seria muito ruim pensar que na vida não teríamos mãe. Seria muito ruim pensar que nos bastamos. Que aquela mulher que um dia sabia de tudo sobre nós, hoje não sabe mais. Que aquela mulher que antes tinha um vigor invejável, músculos ágeis e um físico prudentemente trabalhado, de repente hoje não mais se apresente com tamanhas características.

Mas um dias nossas mães serão diferentes. Elas não mais terão aquele vigor realmente. Elas serão como 'plumas' ao vento, leves como a candura dos anjos e inocentes como o coração de uma criança.

Um dia nós talvez façamos chacotas das suas palavras, das suas (his) estórias, das suas paixões. Um dia, talvez ela não mais entenda o que a gente quer dizer ou o que a gente quer fazer.

Um dia, com certeza, talvez elas não mais farão parte do mesmo vagão no qual embarcamos. Em alguma estação ela ou nós desembarcaremos.

E aí nos virá a lembrança, a vontade de ter vivido mais ao seu lado. A vontade de ter brincado mais, de ter sentido melhor o seu cheiro. A vontade de não ter lhe respondido mal, ou termos pensado que pelo avançar da idade ela talvez não entendesse mais de filhos.

Nossa mãe sempre entenderá de filhos. Ela pode até não saber do que a gente sabe, mas sabe o que a gente é. Ela pode até não ser doutora ou passar no vestibular, mas com certeza ela já terá passado no maior de todos os concurso da vida: o ato sublime de dar a luz!

Portanto, se a nossa mãe é jovem ou idosa, analfabeta ou letrada, isso de nada importa. Importa que as palavras dela valem mais que qualquer tesouro. O seu sorriso e a sua presença valem mais do que qualquer estudo ou conhecimento. O seu abraço e o seu cheiro tem sabor de eternidade.

E aí, um dia, se ela ou a gente partir, a nossa lembrança terá o gosto mágico de presença e não de ausência. Teremos a certeza perene de que as suas palavras continuarão a soar como conselhos eternos de quem um dia acreditou que as palavras de uma mãe valem tanto quanto a eternidade.

Filosofia do biscoito

Vejam que interessante: o supermercado também é lugar de Filosofia. É uma ágora moderna. O poder de compra quase sempre nos liga ao poder social, ao status do indivíduo na sociedade. Mas o poder de filosofar em pleno supermercado é algo diferente.

Ontem, na fila do supermercado ouvi um diálogo em mãe e filho. Ambos estavam fazendo pequenas compras. Em um determinado momento ela o indaga:

- veja, será que esse biscoito é bom?

Ao que que ele responde:

- Bom, até que pode ser. Mas bom mesmo vai ser o preço destes CDs que estou comprando para gravar alguns filmes para o meu amigo e ainda terei que enviá-los pelo correio. Como custa caro ter amigos!

E mãe indaga:

- e vale a pena?

Ele responde:

- até que vale. Nesse caso, vale! Há amigos que escolhemos e amigos que não escolhemos. Como dizia Napoleão: se você não fizer escolhas outros as farão por você. Até mesmo as escolhas ruins, quando assumimos, ficamos satisfeitos quando nos damos conta de que foram nossas e não de outros.

E a mãe respondeu:

- é... vou levar o biscoito!!!

E onde entra a Filosofia? Está no diálogo. Na maiêutica desenvolvida pela dupla de interlecutores na fila de um supermercado e ouvida por mim.

É interessante que no areópago do consumo - um supermercado - ouçamos diálogos semelhantes ao do areópago de Atenas. Mudam apenas o sujeitos. Aquele homem e aquela mulher eram sujeitos do diálogo. Faziam das suas preocupações diárias elementos da sua própria vida.

Partindo de um biscoito, um simples biscoito, chegam ao que é sublime e Transcendente: a arte de fazer escolhas. Na imensidão do supermercado, mãe e filho criam um 'jardim' do diálogo. São capazes de perceber que mesmo ali, rodeados pela lógica mercadológica, não esquecem o que faz sentido, que de certa forma está lá fora justamente porque está dentro de si. A esse processo de percepção do interiore e do exterior, da interação e interrelação entre a teoria e a prática, Marx o chama de 'práxis'. Ali estava acontencendo um exemplo de práxis da vida.

Isso só nos certifica que a Filosofia não é e não deve ser uma viagem aleatória pelo intelecto. A Filosofia está ali: na vida simples das pessoas; nas reflexões puras da vida; na vitalidade genuína dos indivíduos; na relação de pais e filhos; na consciência crítica dos indivíduos diante do que está no meio social; no contato com os amigos.

A Filosofia é a Vida. É pensar sobre o que você fez e o que você faz. É saber que a sua vida tem parâmetros de realidade, onde se encontram sinais, elementos, capacidades. É saber que você vive no tempo e que esse tempo muitas vezes o pressiona e o im-pressiona. Saber que esse tempo faz você olhar para frente para logo chegar, o retardar a chegada do "logo" que não quer.

O Tempo é assim: é repentino, maravilhoso. O tempo é divino quando uma mãe espera um filho. O tempo é fatal quando um preso no corredor da morte conta os dias da sua execução; o tempo é divino quando logo passa e chega o dia do trabalhador receber o salário, o tempo é macabro quando logo passa e aproxima o dia de pagar as dívidas já tão abaladas pelo ritmo também temporal dos juros que assolam.

É assim a nossa vida. De um simples biscoito podemos chegar à reflexão das escolhas. De um simples biscoito vislumbramos sinais que eternizam ou temporalizam a nossa forma de ser...