- PARTE I -
DESCOBRINDO OS VALORES
- O ser humano está sempre avaliando – Avaliar: identificar, reconhecer e aprecisar o valor.
- Reflexão em duas partes: abordagem conceitual e algumas questões sobre a teoria dos valores (ou axiologia).
1. Juízos de valor
Juízos de Realidade | Juízos de Valor | Avaliação |
Aquela caneta é azul | A caneta azul não é tão bonita quanto a vermelha | Estética |
Este lápis é novo | O lápis velho escrevia melhor que este novo | Utilidade |
Maria acabou de sair | Maria não deveria ter saído antes de terminar o trabalho | Moral |
Pedro foi comprar pão | O pão está muito caro | Econômico |
A barraca está cheia de frutas | As frutas fazem bem à saúde | Vital |
João está orando | Orar reconforta o espírito | Religioso |
- a palavra Valor:
• etimológico -“valere” – “ser forte, valoroso, eficaz” e “ter saúde”.
• psicológico – “mérito” – talento de alguém ou à coragem de um valoroso guerreiro.
• utilidade – quando uma faca perde o corte, dizemos que ela não vale nada.
2. O que são valores
- Valorar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de toda escolha.
- O objetivo de qualquer valoração é, sem dúvida, orientar a ação prática.
- Diante do que é, a valoração nos orienta para o que deve ser.
- Mas o que é o valor?
Existe o mundo das coisas e o mundo dos valores. Não podemos afirmar, porém, que os valores
São da mesma maneira que as coisas são, porque o valor é sempre uma relação entre o
sujeito que valora e o objeto que é valorado; por isso, não há
‘valor em si’, mas ‘valor para alguém’
- Os valores existem na ordem da afetividade, uma vez que não ficamos indiferentes diante de alguma coisa ou de uma pessoa, mas sempre somos afetados por elas de algum modo.
- Em linhas gerais: os filósofos definem o valor como “o que deve ser objeto de referência ou de escolha” ou, ainda, “um valor é o que vale; e valer é ser desejável ou desejado”.
3. De onde vêm os valores?
- Os valores são em parte herdados da cultura, e nossa primeira compreensão da realidade se funda no solo dos valores da comunidade a que pertencemos.
- As experiências de valorar variam conforme a cultura e a época.
- Apesar das variações, todas as comunidades têm a necessidade formal de regras, modelos, cânones, em todos os setores.
4. Educar para os valores
- Mesmo sendo transmitidos os valores, não há como desprezar a capacidade humana de criticar os costumes vigentes e ansiar por novos horizontes de ação.
- A crítica é menos intensa nas sociedades tradicionais, que conservam seus modelos de comportamento por mais tempo; mas é muito forte em época de crise de valores.
- A tendência predominante das pessoas é resistir , buscando a segurança de valores dados e não questionados.
- De igual modo acontece com os valores morais: não nascemos morais, mas devemos nos tornar sujeitos morais.
• a construção de nossa personalidade moral supõe uma descentração – em que superamos o nosso egoísmo, em direção ao reconhecimento do outro como outro-eu.
• educação moral: inculcação das normas e estimulação da passagem da heteronomia para a autonomia.
• a discussão dos juízos de valor nos ajudam a buscar as razões que fundamentam nossas escolhas.
- Também não nascemos cidadãos, mas devemos ser educados para a cidadania ativa, comportamento fundamental para o exercício da democracia participativa. Não é fácil desenvolver a política da igualdade – que estimula a solidariedade, o pluralismo e o respeito pelos direitos humanos.
- Enfim:
• os valores servem para que a sociedade se humanize, mantenha a sua integridade e se desenvolva.
• para isso, é necessário a preservação da autonomia na capacidade de valorar.
• existe dois momentos: um em que os valores são herdados e, outro, pessoal e intersubjetivo, de questionamento dos valores, priorizando-os ou procedendo a sua revisão, quando eles deixam de estar a serviço da nossa humanização.
- PARTE II –
A FILOSOFIA DOS VALORES
1. Axiologia ou filosofia dos valores
- O conceito Valor:
• utilizado como termo técnico na economia política no final do séc. XVIII e início do séc. XIX, ao fazer distinção entre valor de uso e valor de troca.
• mais tarde incorporado à filosofia como um novo ramo: axiologia ou filosofia dos valores.
2. Concepções axiológicas
- Desde a filosofia antiga, os pensadores abordavam as questões do valor sob o aspecto do bem, do belo, do verdadeiro, mas sempre com relação ao ser - a discussão não estava centrada no valor, que dependia da metafísica.
• Platão: “mundo das idéias” – modelo no qual a realidade concreta se espelha. Haveria o bem em si, o belo em si e o verdadeiro em si.
• Aristóteles: “natureza” – (inclusive a natureza humana) – como um processo em que todos os seres buscam atualizar (tornar atual) aquilo que são em potência, visando à plena natureza.
• Kant:Século XVIII, representante do iluminismo alemão – afirma que não podemos conhecer o ser profundo das coisas, concluiu pela incapacidade da razão de ter acesso à metafísica. Como conseqüência, se o ser não é mais o fundamento das nossas apreciações, cabe ao sujeito assumir o peso e a responsabilidade dos seus valores. Kant não se referia a um sujeito individual, mas ao sujeito universal, que ele chama de sujeito transcendental, capaz de autonomia, de julgar por si próprio ao fazer juízos estéticos e morais.
• Filósofos que se seguiram: passaram a dar destaque à noção de temporalidade e de vir-a-ser: neste mundo em mudança, que está sempre “por se fazer”, os valores adquirem dimensão própria.
• Friedrich Nietzsche: coloca em questão a escala de valores aceita muitas vezes devido ao hábito, mas sobretudo imposta pela tradição cristã.
- humildade, caridade, resignação e piedade são valores dos fracos e vencidos, próprio de uma moral de “escravos”, intimamente ligada às necessidades dos que vivem em rebanho.
- a “moral dos senhores” é positiva, porque baseada no sim à vida, e se configura sob o signo da plenitude, do acréscimo.
- propõe a transvaloração dos valores – eles não existiram desde sempre. Os valores são “humanos, demasiado humanos” e, portanto, foram criados.
- ao criticar o fato de que os valores há mais de dois mil anos se acham fundamentados na metafísica e na religião, considera que a vida é o único critério de avaliação que se impõe por si mesmo.
3. Relatividade e subjetividade dos valores.
- Seriam os valores relativos e não mais absolutos? Seriam eles subjetivos, e não objetivos e universais?
- Segundo a atitude intelectualista - pela qual se admite ser a razão que descobre os valores, e não a sensibilidade -, porder-se-ia concluir pela relatividade dos valores. Mas não é bem assim.
- Para outros filósofos, a recusa dos valores dados como eternos e imutáveis não significa cair no relativismo. Vejamos alguns tópicos a respeito do assunto:
• a questão do gosto não pode ser encarada como uma preferência arbitrária e imperiosa da nossa subjetividade, porque é possível educar a sensibilidade, aprimorando o gosto.
• respeitar as opiniões diferentes não significa a impossibilidade de discordar delas.
• é possível discutir com os opositores sobre os motivos das escolhas e das rejeições.
- Damos destaque ao esforço pessoal reflexivo, estimulado pelo diálogo, que leva ao esclarecimento dos nossos juízos de valor, bem como ao desenvolvimento da sensibilidade, o que nos permite lançar um outro olhar sobre nossas crenças arraigadas.
Conclusão
- A discussão filosófica sobre valores é importante, porque ela nos proporciona um olhar diferente sobre o mundo e sobre nós mesmos, o que pode resultar num antídoto para a alienação, o conformismo, o preconceito.
- Não podemos deixar de lado o caráter existencial do pensar, que se funda em exigência ética, estética e política.
- Enfim: precisamos dessa reflexão sobre os valores, num mundo excessivamente individualista, pragmático, tecnocrático, em que os meios são mais valorizados do que os fins humanos.