Caminho de Humanidade...

Há um caminho...
Nesse caminho encontramos amores e dissabores,
Nele não há certezas e honras.
Nesse caminho há apenas a vontade certa de penetrar o incerto, mergulhar no mistério e envolver-se pela contemplação de eternidade...
Ah... que eternidade!
A eternidade dos simples que se fazem no tempo.
O tempo dos fracos que se fortificam nos sonhos...
A vida vivida dos que comigo partilham a esperança...
E de repente, no caminho, jaz apenas o encontro: entre o EU que em mim centelha e o TU que em ti contemplo...
Caminhando, enfim, encontro com aqueles que aceitam ser simples; com aqueles que, sendo simples, tornam-se grandes e, sendo grandes, tornam-se detentores de uma sublime humanidade...




Não existe amor maior...

Não existe amor maior...
De repente a gente descobre que não pode mais estar sozinho... que nem a incompletude nossa é capaz de conformar-nos com a ausência de quem nos completa... E então a gente descobre que não pode viver sem o encanto, o carinho, a presença, o amor que Deus nos presenteia...

O que significa ser mestre...

O que significa ser mestre...
Neste dia, a maestria se fez presente na singeleza dos gestos e na simplicidade de quem é sábio na inteireza... de quem é inteiro na sabedoria e humanidade.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Filosofia e Ensino Médio: o médio ensino da Filosofia.



Introdução

Desde a antiguidade, a Filosofia se firma mais como um processo de pensar do que propriamente um processo de ensino-aprendizagem. Não se trata de uma possível   incompatibilidade entre a Filosofia e o processo de ensino-aprendizagem. Refere-se, antes, a um trajeto que supera a tecnicidade do ensino e reclama um lugar próprio na educação do ser humano.

Entendida a educação como um trajeto de humanização, cabe ao filosofar dar sentido a esse processo. Assim, o lugar reclamado pela Filosofia no ensino formal, em especial o ensino escolar, remonta às origens das próprias instituições educacionais. No Brasil, o surgimento das faculdades de Filosofia, quase sempre capitaneadas por interesses acadêmicos que atendiam a contextos específicos, representou a possibilidade de formar cidadãos comprometidos com o saber e com a objetivação desses saberes em forma de condutas neles imbricados.

Diante das mais diferentes transformações políticas no Brasil, a Filosofia ocupou muito ou pouco espaço nas ideologias fomentadoras de tais contextos. Exemplo disso, foi a extinção do ensino de filosofia nas Escolas nos períodos em que se sobrepunham a ditaduras das leis às palavras, o autoritarismo de grupos em detrimento do diálogo do pensar.

A redemocratização apontou para uma nova época. A passos lentos, formou-se a ideia de que a práxis, enquanto diálogo entre reflexão-ação, precisava redimensionar os seus horizontes na educação. O telos do saber filosófico afirmava a necessidade um itinerário a ser construído, tanto na perspectiva das leis vigentes quanto na consideração coletiva da importância da Filosofia. A Constituição Cidadã de 1988, a nova LDB 9394/96 e os PCN´s, são provas inequívocas - porém, a caminho -, de que a Filosofia assumiria uma nova postura no itinerário formativo do cidadão brasileiro.

A questão nevrálgica, no entanto, não se refere ao reconhecimento das instâncias guardiãs das políticas e regras educacionais do país. O grande desafio é saber o nível de acolhida por partes das instituições educacionais, sejam elas públicas ou privadas.

O que aqui discorreremos se trata mais de uma partilha de experiência do que propriamente uma análise acadêmica de questões relevantes para uma possível pesquisa. Para tal, requere-se outros elementos que vão além dessa nossa partilha. Para tanto, discorreremos em dois momentos assim organizados:

1.       A importância e o alcance da prática da filosofia.
2.       O lugar da Filosofia ainda é próprio para um verdadeiro filosofar.

Assim, tais questões exercem uma dupla função: a importância do reconhecimento da filosofia como elemento basilar no currículo escolar e a consciência de que esse reconhecimento não basta para a implementação de um processo sério do ensino de Filosofia, em especial no Ensino Médio.


1.      A prática do ensino de filosofia – um ensino da prática ou uma prática do pensar?


Uma das questões que estão muito presentes na de professor de Filosofia no Ensino Médio é: se Kant diz não ser possível ensinar filosofia, mas filosofar, o que compreende o ensino de Filosofia: uma prática acerca do pensar ou um pensar acerca da prática? Mais que um jogo de palavras, isso revela que a Filosofia está imerso num processo de eqüidade que visa promovê-la ao Status de utilidade no currículo e na distribuição dos horários escolares. As mesmas exigências e aplicabilidades das demais disciplinas acabam sendo reproduzidas pelo Ensino da Filosofia. O professor passa a ser mais um profissional conteudista do que propriamente um facilitador do processo de filosofar.

Nesse ínterim, tanto a disciplina, como os seus parâmetros da prática, acabam sendo reféns do projeto político-pedagógico de cada instituição, levando em consideração que nem todas as instituições prezam pela prática da elaboração de tal projeto. Isso quer dizer que em primeiro lugar não há uma indagação acerca do “algo” que a Filosofia pode causar. Há, sim, indagações acerca da aplicabilidade da Filosofia nas intenções utilitaristas e/ou ideológicas do tipo de ideia que se quer conceber e de cidadão que se quer formar.

Tratando-se de instituições escolares públicas, a Filosofia encontra o seu lugar por força das exigências, no entanto, quase sempre é uma disciplina preterida em relação às demais, incluindo o descaso com o profissional formado em Filosofia, quando redimensionam outras pessoas para trabalharem tal disciplina sem que as mesmas estejam munidas de condições mínimas para tal função.

A Filosofia passa a ser, então, um apêndice escolar, ao qual podem se dirigir qualquer uma das áreas, como que uma simples conversa ou uma simples reunião já configurasse o processo de ensino de Filosofia. Essa prática nega à Filosofia um lugar que lhe é próprio, enquanto saber que perpassa todos os saberes, mas que não os restringe e nem restringe a si. Trata-se de um saber “dialogante” (para indicar uma ação-agindo-fazendo-se-configurando”). Um saber que não reclama a supremacia, mas não abre mão da sua identidade.

Tratando-se de instiuições escolares particulares, a Filosofia encontra uma profunda resistência enquanto processo de filosofar. Interessa a essas instituições uma exigência básica: a aplicabilidade da Filosofia ao processo de Vestibulares. Assim, dependendo da configuração de Vestibular, os programas escolares precisam se adequar, incluindo os programas do ensino de filosofia, às exigências temáticas de tais exames de seleção. Nesse sentido, a Filosofia precisa ser subserviente à estrutura de Vestibular, onde nem sempre se preza pela palavra-reflexão, mas pela arte de assinalar um conjunto de possíveis alternativas que, segundo o autor das questões, melhor se configuram com o que ele ou seus manuais assim entendem na referência a determinadas temáticas.

Exemplo disso, foi a primeira fase do Vestibular de 2009 de uma dada Universidade, quando dentre as seis questões elaboradas, quatro apresentaram problemas estruturais e ambigüidades conceituais, levando os alunos não apenas a uma confusão acerca das possíveis respostas, assim como, a uma afirmação em uníssono – hoje mais superada que antes - de que a Filosofia se refere a “uma viagem-viajante”.

Assim, as escolas particulares - não se tratando de uma generalização, acabam se tornando reféns dos processos de “treinamento conceitual” exigidos pelos vestibulares. Estudamos temáticas e, a partir delas, treinamos formas melhores de assinalar alternativas.

Será a Filosofia uma prática ou uma técnica? Se for técnica, então qualquer um poderá treinar, exigir a sua prática, pois qualquer um pode passar conceitos, pode conceituar temas e, consequetemente, poderá também encontrar artifícios de melhor assinalar a alternativa correta nos vestibulares. Se for uma prática, por sua vez, exige-se mais: requer-se escolas abertas para formar mais que técnicos da filosofia, mais que feitores de exames.

O filosofar requer espaços e recursos próprios: filosófico e pedagógico. Quase sempre, o espaço disponível é apenas a sala de aula. Uma ressalva: a sala de aula organizada não pelo professor-organizador do processo, mas pela linha educacional a que o professor deve submeter a própria filosofia. Os recursos precisam ser aqueles que têm a obrigação de atender ao tempo-limite exigido para cada assunto. Assim, espaço e tempo, passam a ser elementos pré-determinados pela lógica à qual melhor se adequou a instituição. A filosofia passa a ser uma aula de temas, cuidadosamente trabalhados, para não ferir os horizontes de uma ética ou de uma prática de costumes que contrarie o que se pensa ser o melhor caminho. E, aí, então, a Filosofia perde um pouco de si.

No que se refere ao espaço pedagógico, vemos que há cada vez mais um expressivo equívoco na consideração do que se possa chamar pedagógico. Boa parte das escolas particulares, e não todas, repito, são administradas pelas leis de mercado, onde há um cliente para ser atendido e uma empresa para atender às necessidades do cliente. Assim, os coordenadores e gestores escolares se preocupam em atender a demanda. Poucos têm uma formação pedagógica adequada para tal função, acarretando uma incompreensibilidade acerca da importância epistemológica dos saberes que se inter-cruzam nas mais diferentes disciplinas. Nisso, a Filosofia acaba sendo mais o cumprimento de uma exigência legal e técnica do que propriamente atenção verdadeira a um processo importante na configuração de elementos formadores de humanidade e cidadania.

Assim, a filosofia entra no mesmo hall de outro saber qualquer. Compromete-se o processo. O aluno é mais um receptor de conceituações temáticas do que protagonista do filosofar. Cabe-lhe, apenas, aprender o melhor caminho para assinalar, sem titubear, alternativas pré-estabelecidas, aprisionadas num campo que pouco diz acerca do verdadeiro filosofar.

O que boa parte dos livros didáticos propõem quase sempre se torna impraticável, uma vez que na sua maioria eles propõem elementos para filosofar e não apenas para jogar temáticas isoladas. O ensino de filosofia, equiparado a todos os outros, torna-se pedagogicamente inviável quando também intenciona igualar os métodos e os processos. E isso gera, nos alunos de Ensino Médio, um horror à Filosofia, imprimindo-lhes um sentimento de repulsa eterno a tal disciplina, ao ponto de chegar à Universidade ansiando por não tê-lo em seu currículo. Essa ojeriza, no entanto, é marcada pela forma que se trabalha a Filosofia, não sendo a responsabilidade apenas para o professor ou o material proposto, mas pela própria organicidade pedagógico no qual está inserido o processo.

E o aluno, como fica nesse processo? O aluno fica na condição de cliente. O que lhe agrada passa. O que não agrada, mas é necessário, ele vai considerando como pode. É o que acontece quase sempre no ensino de Filosofia: os alunos o suportam, não necessariamente o desejam.


2.      Luzes que iluminam um verdadeiro filosofar no ensino escolar

O Ensino da Filosofia não é algo que se apresenta apenas a partir de sombras. São também elementos norteadores de luzes. Não podemos ser pessimistas ao ponto de achar que não se está realizando algo. Sim, o ensino da Filosofia está acontecendo, mesmo que não intensamente a partir do filosofar, mas está acontecendo. A questão principal é como está acontecendo.

Assim, caracterizamos como sendo elementos de positividade na prática do ensino escolar a partir da nossa experiência:

a)     A conquista de um espaço diante das disciplinas tradicionais – geralmente preterida em relação às demais disciplinas, a Filosofia está tendo o seu espaço, mesmo que ainda restrito;
b)     Há espaço para o professor criar o locus que lhe é próprio – mesmo que haja orientações que muitas vezes restringem a prática do filosofar, o espaço que o temos, enfaticamente o de sala de aula, apresenta, mesmo que mínima, a possibilidade de reinventar o ensino de filosofia e torná-lo participante, em que os alunos se sintam realmente parte do processo. Elemento que não é fácil e nem simples;
c)      Existe profissionalidade por parte de quem trabalha no ensino de filosofia – cada vez mais as instituições prezam pela seriedade em contratar professores que possam nortear o ensino da filosofia a partir de competências básicas fundantes.
d)     Apesar de ainda ser um ensino temático, é factível a relação com a história da filosofia – dependendo de como aconteça o processo de proposição da Filosofia em Sala de aula, é possível o resgate das bases históricas de tal temática, não se completando, devido a impossibilidade quase que óbvia da ausência de possibilidades de um verdadeiro filosofar enquanto processo de dizer a palavra e relacionar o dito.
e)     O processo da transversalidade de saberes que gera uma possível interdisciplinaridade – ainda distante de ser disciplinar, a prática escolar já desenvolve conteúdos e elementos de convergência e confronto, gerando a possibilidade de saberes que recorrem uns aos outros e se complementam mais como problematizadores do que propriamente detentores de univocidade epistemológica.


Conclusão

A partir dessas breves palavras que aqui discorremos, mesmo sem citar  Instituição ou mesmo sem apresentar um tipo de avaliação de conduta dos seus sujeitos, quisemos aqui elaborar algumas inquietações que se fazem presentes na nossa prática escolar.

Urge a consideração de que tanto as sombras quanto as luzes se fazem presentes. Mais sombras que luzes, hoje. No entanto, uma consideração final é necessário que se faça: o processo de filosofar está distante dos nossos bancos escolares, apesar do ensino de filosofia estar mais próximo. Requer-se uma conversão de sentido. Enquanto não ocupar o seu verdadeiro espaço, métodos e tempos próprios, a Filosofia não acontecerá nas nossas escolas como processo, mas como algo dado, a ser passado, conteudisticamente a ser trabalhado.

A abertura ao filosofar precisa acontecer. O amadorismo do ensino de filosofia precisa ser superado por uma nova ordem que não está no interior da instituição escola, mas na coletividade de todos os sujeitos envolvidos na tarefa educativa, geradores da identidade educacional em tal espaço. Oxalá um dia possamos ver a filosofia assumindo o seu verdadeiro papel de ser um elemento formador de consciências não cristalizadas e abertas, aptas a pensar o mundo, os sujeitos e os próprios processos.