Caminho de Humanidade...

Há um caminho...
Nesse caminho encontramos amores e dissabores,
Nele não há certezas e honras.
Nesse caminho há apenas a vontade certa de penetrar o incerto, mergulhar no mistério e envolver-se pela contemplação de eternidade...
Ah... que eternidade!
A eternidade dos simples que se fazem no tempo.
O tempo dos fracos que se fortificam nos sonhos...
A vida vivida dos que comigo partilham a esperança...
E de repente, no caminho, jaz apenas o encontro: entre o EU que em mim centelha e o TU que em ti contemplo...
Caminhando, enfim, encontro com aqueles que aceitam ser simples; com aqueles que, sendo simples, tornam-se grandes e, sendo grandes, tornam-se detentores de uma sublime humanidade...




Não existe amor maior...

Não existe amor maior...
De repente a gente descobre que não pode mais estar sozinho... que nem a incompletude nossa é capaz de conformar-nos com a ausência de quem nos completa... E então a gente descobre que não pode viver sem o encanto, o carinho, a presença, o amor que Deus nos presenteia...

O que significa ser mestre...

O que significa ser mestre...
Neste dia, a maestria se fez presente na singeleza dos gestos e na simplicidade de quem é sábio na inteireza... de quem é inteiro na sabedoria e humanidade.

domingo, 11 de setembro de 2011

"FICAR": verbo transitivo.

Um outro dia uma jovem me indagou: "professor, é possível namorar sem antes ficar?".

Sabe aquelas perguntas que deixam a gente sem resposta? Foi o que aconteceu. Sempre acho que os jovens nos surpreendem, deixam a gente sem resposta, sem graça ,talvez.

No fundo, fiquei a pensar sobre aquela pergunta. É uma pergunta sem lógica se entendermos que os afetos são elementos estanques da experiência humana, respostas prontas acerca do que pensamos e sentimos; É pergunta com lógica se olharmos para a afetividade como um elemento dinâmico que toca as emoções e os sentimentos humanos como riqueza constante do desenvolvimento das relações.

Então comecei a pensar que aquela jovem estava correta quando me fazia tal indagação. Não, não é possível namorar sem ficar! Tanto que a questão não é a centralidade do "ficar" que gera a discussão. "Ficar" é apenas um detalhe.

"Ficar", na linguagem dos afetos, é um verbo transitivo: precisa de complemento. O complemento em questão implica muita coisa: o sujeito com quem se fica, as intenções que nos levam a ficar, a forma em que se fica, a finalidade para a qual se fica, as causas a partir das quais nos motivam, e assim por diante.

"Ficar" é um verbo que indica pessoa. Mais que a forma infinitiva, o "ficar" implica um mundo de questões que nos fazem pensar o caminho que se percorre entre o "momento" e a "transitoriedade" dos fatos, entre o "tempo de companhia" e a "permanência de uma presença".

O verbo "Ficar" é irmão do verbo "passar". Fica-se com a pessoa que se deseja, com a "mina" que se quer, com o garotão que se almeja. Mas isso passa. Passa porque o momento é a arte de "passar", de não permanecer, de apenas curtir, porque não é interesse que se vá além da curtição do momento.

"Ficar" é momento que passa. É o voo do pássaro que fica. É a imagem da mente que voa. É o pensamento dos sonhos que somem no horizonte do momento. Ficar não exige, não grita, não cria laços. Não importam os sentimentos que brotam, as paixões que pulsam, os sonhos que surgem. Não requer compromisso, não requer sentimentos, não requer laços que se aprimorem em paixão.

De um simples "ficar" pode surgir uma paixão. Se ela surge, então não foi de um simples ficar. Foi de um "ficar" diferente: que cria laços na origem do "estar junto". O "ficar" que aproxima é aquele que quando se chega ao fim do momento, prolongam-se os laços porque no início o objetivo não era "ficar" enquanto busca de alcançar apenas o conteúdo que está no outro e que me interessa. Se criam-se laços de um simples "ficar", é porque na sua origem os laços já se faziam presentes nos olhares substantivados e adjetivados sobre o outro. O outro, "mina" ou "garotão", não eram meros depósitos de um conteúdo que interessava. O outro fora visto por "inteiro", sem separações, no que há de mais sublime nele ou nela mesmos: a sua humanidade.

Aí então é que o "ficar" que gera namoro é aquele que não se resume ao "uso" do outro como objeto ou como descartável. O "ficar" que gera namoro é aquele que une "mina" e "garotão" com o intuito de partilharem, mesmo que seja um momento, a sua inteireza, o que de humano e verdadeiro cada um carrega.

Na verdade, não existe "ficar". O que existe é uma "descoberta" primeira que, para ser descoberta, precisa ser inteira, não inteira descoberta, mas descoberta que inicia o contato com a inteireza do outro, com os sentimentos que a compõem, com os olhares que se antepõem ao próprio ato de namorar. Neste "ficar", não há espaço para a "instrumentalização" do outro. Há espaço para a abertura, justamente porque esse "ficar" não indica momento de "aproveitamento", mas realização de um desejo de "encontro" em que os sujeitos não ganham individualmente, mas coletivamente.

Um momento em forma de "encontro" é isto: um ficar para frente sem que isso implique "uso" do outro. Um ficar que não passa, mas que marca, que enlaça possibilidades e esperanças em forma de humanidade.